terça-feira, outubro 31, 2006

O EXPRESSO DA SAUDADE









O tempo que me coube s’ esgotou
na expressão ternurenta do teu rosto,
fogoso coração de fulvo gosto,
sorriso aberto que m’ enfeitiçou.

Nas palavras e gesto qu’ explicou
teu corpo esbelto à minha frent’ exposto,
e o não do alimento a contra-gosto,
tudo isto a minha ânsia suplantou...

Ai, Rita minha, se sentisses só
algo daquela angústia que senti
por partires sem teres de mim dó...

Dirias ao combóio, sem piedade,
que demorasse um pouco mais ali
sem se mudar no Expresso da saudade!



Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA

EXCELSA DIVA

Abarca o excelso lume e o calor
Mesmo sabendo o lado pior da vida,
É com prazer que vive renascida
Rumo à confiança que lhe traz o amor.

Imaculado sonho em grão primor
Com a veia de poeta engrandecida
A alma de beleza enriquecida
Mais lhe dá a finura e o vigor.

Imensa a verde seara germinada
Razão de amor que o sonho iluminou
Alargado p´la fresca madrugada.

Na aurora da Cultura se lançou
Diva desta poesia estruturada
América, teu nome já brilhou !



Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS

segunda-feira, outubro 30, 2006

PEDRO ABELARDO Y ELOISA


PEDRO ABELARDO Y ELOISA


Pedro Abelardo nasceu perto de Nantes em 1079, dedicou-se ao estudo da Dialéctica, Teologia e da Filosofia.
Foi discípulo de Roscelino, com o qual estudou Lógica e posteriormente foi discípulo de Guilherme de Champeaux com o qual estudou Teologia e se interessou pela discussão dos Universais.
Abelardo sempre se opôs às ideias dos seus mestres e como tal sempre gerou conflito e invejas.
Passa a sua juventude a viajar de escola em escola. Ao terminar os seus estudos, vai leccionar Filosofia em Melun, depois em Corbeil e posteriormente em Paris, instalando-se por fim em Sainte-Geneviève para ministrar aulas de Filosofia e Teologia.
As suas aulas são muito apreciadas e assistidas por inúmeros discípulos, ao ponto de serem preferidas à dos seus mestres.
Numa das escolas, encontra Heloísa, uma jovem de grandes atributos intelectuais e de grande beleza. Abelardo apaixona-se perdidamente. O tio de Heloísa, Fulberto, nunca viu este amor com bons olhos, ao ponto de castrar Abelardo para limpar o eu nome.
Abelardo e Heloísa têm um filho, ao qual puseram o nome de Astrolábio
Após a separação de Abelardo e Heloísa, ela entra na vida monástica no mosteiro de Argenteuil e Abelardo torna-se monge e continua os seus ensinamentos.
Pelo seu dom, Abelardo por todas as escolas por onde passava, encontrava sempre grande número de alunos.
Abelardo escreve um livro sobre a Unidade e a Trindade Divina, que suscita muitas polémicas na Igreja ao ponto de ser obrigado a queimá-lo em público.
Abelardo volta a ensinar em Paris, expondo em público a suas ideias sobre fé católica, e por serem consideradas uma afronta à Igreja é condenado e expulso.
Nos restantes anos da sua vida, para além de ensinar, Abelardo escreve algumas obras, das quais se destacam as seguintes: A Dialéctica ; Ética ou Conhece-te a Ti Mesmo ; As Glosas ; A Teologia Cristã ; Sic et Non (Sim e Não) ; História das Minhas Tristezas ; Diálogo entre um Filósofo, um Judeu e um Cristão (obra por acabar).
Existem algumas cartas entre Abelardo e Heloísa, da correspondência que trocaram ao longo dos anos e que imortalizou a história trágica de amor entre estes dois amantes.

*

HELOÍSA E ABELARDO

O ENCONTRO


Chamo-me Heloísa de Notre Dame
e saí para passear
com a minha criada Sibyle,
numa tarde de sereno entardecer.

O sol prende-se sobre o Sena
em suave desmaio
enquanto o último suspiro do dia
me arranca velozmente o chapéu.

Quiseram os deuses
que este se arrastasse
até um grupo de estudantes
reunidos em torno de alguém,
aos pés de quem o alado
e voluntarioso chapéu se foi postar.

Ao ouvir o seu nome,
mestre Abelardo, diziam,
senti que o meu coração
disparava intensamente.

Aproximei-me para recolher o chapéu,
e ele cumprimentando-me,
ofereceu-mo com um sorriso.

Dos estudantes logo partiram risos
cúmplices e jocosos
que esmoreceram suspensos
perante o modo como nos olhámos
em descoberta mútua.

Perturbada, coloquei o chapéu,
fiz uma reverência ao mestre
e retirei-me voando
agora eu ao vento dos sentidos,
na agonia de um estimulante entardecer...

*

TRISTEZA E SEPARAÇÃO


Expulso Abelardo de meus tálamos,
fez-se dor na minha noite.
Preparei poções, experimentei ervas,
e eis-me que tresloucada adormeço
meu tio para me render no porão
a encontros com o meu amado.

Aí reinventámos o amor
em noites de frio silêncio
e muda entrega.

Porém, a inveja do mundo
também nesse ninho nos alcançou
e em breve meu tio nos descobre,
me espanca e aferrolha em casa
sob estreita vigilância.

Passámos a encontrar-nos
furtivamente em sacristias,
confessionários e catedrais,
locais que me eram permitidos sem vigilância,
impensável que era o sacrilégio
para mentes que desconhecessem
a força do nosso amor...

*

AMANTES PARA SEMPRE


Abraçámo-nos em silêncio
perante o olhar protector
e triste do pai que nos abarca
como as obras mais plenas
da sua vida de filósofo,
pois desgostoso vira
algumas obras suas serem condenadas
à fogueira da ignorância...

Mas também então nada foi dito.
Nem o sopro de uma palavra.
Quando morreu, ergui-lhe um enorme sepulcro,
na Abadia de Cluny,
e nele pedi me juntassem ao meu amado,
ao soar da minha hora.

Pouco tempo depois,
quando nele vazavam os meus despojos,
dizem que para receber meu corpo,
o seu se encontrava ainda intacto,
e viram-lhe os braços abertos
como se me estivesse aguardando
para me abraçar na eternidade...

E assim, nela nos fizemos também
eternos amantes
e pensadores sem tempo.
***