POETAS CONSAGRADOS - ANTÓNIO GEDEÃO
Por
António Gedeão
Quem me dera a mim cantar
como devia regar:
alma nua, toda nua
como a nudez dos cordeiros
ou como a Verdade e o Vento
alma em chamas, toda em chamas
como um incêndio invisível;
mãos erguidas, sem ninguém
que lhes adivinhe os gestos;
sangue das veias correndo
para o fundo dos abismos;
os olhos presos dos astros
sem que os astros o suponham;
e os pés deixando na terra
vestígios indecifráveis;
cantar adentro de mim
como se o canto não fosse
senão pureza e silêncio,
para que acima das coisas
só ficasse a palpitar
o coração do mistério.
E, dominando as palavras,
mais do que a lua as marés,
apenas se ouvisse o Verbo,
que está sempre no princípio
e sempre no fim de tudo.
Porque a poesia é só Ele !
António Gedeão
In “Movimento Perpétuo”
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