quinta-feira, dezembro 29, 2022

ELEGIA A MEGA FERREIRA

“No velório do Teatro Camões” 

Ancoraste junto ao Tejo para a última viagem 
Onde te esperavam as Musas ansiosas 
Que aí quiseram recolher mais uma mensagem 
 De floridas coroas sentidas e formosas. 

Neste Palácio, que tu mesmo imaginaste, 
Quiseste representar o teu último acto 
Que ao luso “príncipe dos poetas” dedicaste 
Para qu´ às ditas Tágides ficasse como pacto. 

Pra t´ encontrar de novo, para aí me dirigi 
E, quem o sabe, mais este verso te dizer. 
Busquei-te, por entre as brumas, mas não te vi, 
Porque o Palácio encerrara, por desprazer. 

Mas, como só tinha esta manhã, disse ao Tejo 
Que te entregasse esta dedicada Elegia, 
Este meu sentimento, e este meu desejo 
De tirar à minha alma toda a nostalgia… 

Estes versos, que eu te canto, são diferentes 
Daqueles que compuseste com brio e distinção; 
Mas, com eles, deixaste indeléveis sementes 
E “o tempo que nos cabe” deles fará menção! 


Frassino Machado 
In INSTÂNCIAS DE MIM

quinta-feira, novembro 09, 2017

A POESIA ROBÓTICA



«Web Summit 2017»

         Da Cimeira Web a grande novidade, 
         Que provocou polémica e até espanto,
         Foi saber-se que dentro doutro tanto
         Haverá para todos maior “comodidade”.

         A juvenil “Sophia”, ainda de tenra idade
         E com desplante sensual de fresco encanto,
         Argumentou que o seu Saber é sacrossanto
         Podendo, por si mesmo, obter mais qualidade.

         O sábio “Einstein” referiu que o objectivo
         Desta Cimeira – que se revelou caótica –
         Foi o despoletar da “inteligência robótica”
         Ainda que o resultado continue relativo…

         Se essa era a “intenção” os dois se equivocaram
         Pois, afinal, tudo não passou de fantasia:
         A robótica apresentada foi ingénua “poesia”
         E o Saber e a Inteligência nunca se provaram.

         A verdade é que os homens vão, de saga em saga, 
         Reforçando uma «história» triste e aziaga! 


         Frassino Machado
         In RODA-VIVA POESIA

      






quarta-feira, outubro 11, 2017

O ARAUTO DA POESIA



«Dedicado a América Miranda    

                                      Ó Tertúlia distinta, vinte anos já passaram!
                                      Desde que América Miranda te fundou
                                     Até hoje, uma chama de paixão te consagrou
                                     Nos jubilosos tempos que se revelaram…

                                    Foram vinte anos em que o Palco se agitou
                                    P´ los poemas de Bocage que nos enfeitiçaram;
                                    E nestes versos novos, que ora se ergueram,
                                    Cumpre-se o sonho que América estruturou. 

                                    Os tempos de Bocage – do nobre Vate Sadino –
                                    Fizeram deste Elmano um memorável hino
                                    Que a toda hora, e sempre, soubemos recriar…
 
                                    Neste terno acalento, tornado peregrino,
                                    Vem o «Arauto da Poesia» agora a anunciar
                                    Qu´ a Tertúlia “América Miranda” está no ar.

                                    E por este mar revolto de folhas a bailar
                                    Singra a ousada caravela da lealdade
                                    Num Horizonte sem destino e sem idade.

                                    E aí, nesse glorioso Parnaso de ventura,
                                    A pena de Calíope, em cada partitura,
                                    Escreverá d´ América um livro de saudade! 


                                    Frassino Machado
                                    In CORAÇÕES ANSIOSOS
                                    www.frassinomachado.net 

sexta-feira, junho 30, 2017


OS DOIS PILARES – Frassino Machado

“A São Pedro e São Paulo”

Simão Pedro, Simão Pedro –
Tu, que és cá um dos meus –
Soprou-me o vento do cedro
Que eras “porteiro” de Deus.

Também Cristo t´ ordenou,
Dando-te as chaves do céu,
Provando que te perdoou
Ao esquecer o teu labéu.

Apesar de seres pescador
E sem grande aprendizado,
Deu-te destaque e valor
Fazendo-te Seu delegado.

Consultei Paulo de Tarso,
Que n´ altura era novato:
Disse-me com embaraço
Desconhecer tal Contrato.

Se Paulo te desconhecia –
Entende-se o seu critério –
Nunca foi tua companhia
E vagueava pelo império.

Num certo dia em viagem
Sabendo do seu paradeiro
Com uma simples mensagem
Chamaste-o pra companheiro.

Tu tinhas alguns direitos
E, Paulo, direitos tinha
No melhor dos teus preceitos
Agiste com cabecinha.

Estava fraca a Instituição
Quase em todos os lugares
Tu e Paulo, por vocação,
Fizestes-vos dela Pilares.

O teu saber condicionado
Realçou-te a experiência
E, porque eras respeitado,
Tiveste enorme influência.

Paulo, porém, com instrução
Num Logos de todas as frentes,
Estruturando a Instituição
Fez-se o Apóstolo das gentes.

Tu não “conhecias” Jesus,
Disseste uma noite à criada,
Mas dentro de ti fez-se Luz
Numa Alma renovada.

E Paulo perseguiu Jesus
Fazendo-se d´ Ele carrasco
Mas, agora, todo ele transluz
Pelo caminho de Damasco.

Pedro e Paulo, dois Pilares,
Foram a Chave e a Espada
Dos sublimes patamares
Da Igreja Ressuscitada.

Tu, Pedro, a pedra angular
E da Fraternidade artífice,
Foste uma Aura exemplar
E o seu primacial Pontífice.

Tu, Paulo, foste o talento
Da Doutrina criadora,
Moinho tocado a Vento
Dando pão a toda a hora.

Se mais nada fora jucundo
Dois, em um, é mais solene
Dá maior riqueza ao mundo
Num Cristianismo perene!

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA


terça-feira, maio 12, 2015

TEMPERO E MAGIA



                             
             “Para a Lúcia & Francisco”

Tanto se tem escrito sobre o amor
E nada nem ninguém tem segurança
Mesmo que se articule numa aliança
Algo que a alma tenha em desfavor.

E tantos sonhos com prazer ou dor,
Tantas idas e vindas da esperança,
Tanto de contra censo ou contradança
Sem que nada se ajuste com vigor…

Há sempre amor na hora da madrugada
Quando um dos elos parte para a estrada
E o outro permanece no doce lar.

Há sempre amor na hora do entardecer
Quando de novo o encontro acontecer
No abraço e na doçura de um olhar…

E se houver mais alguém entrelaçado, 
Rebento de um amor já realizado,
Eis tempero, eis magia a latejar!

Frassino Machado
In CORAÇÕES ANSIOSOS


segunda-feira, março 02, 2015

SER AMIGO


 


Nunca tanto como hoje se fala de amigo
Em todo e qualquer canto ou simples avenida
E nunca tão escassa tem sido nesta Vida
A amizade de Alguém que faça de abrigo.

Nos sinuosos caminhos de qualquer mendigo,
Que sente a própria realidade pervertida,
Ou até de qualquer ricaço sem guarida,
A amizade resguarda sempre do perigo…

Qual interesse ou paixão ou até mesmo amor?
Os amigos da onça, de Peniche ou do alheio,
Que sabem eles do que é belo ou do qu´ é feio?

Ser AMIGO, sem mais, é o maior valor
Que qualquer ser humano neste Mundo tem
Preenchendo o vazio que dele lhe advém… 

Ser AMIGO é sentir o fogo que arde por dentro
Quando um Abraço acontece a qualquer momento!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA


quarta-feira, setembro 17, 2014

VÃO AS SERENAS ÁGUAS

 Luís Vaz de Camões, 1524 - 1580

Vão as serenas águas
Do Mondego descendo
Mansamente, que até o mar não param;
Por onde minhas mágoas
Pouco a pouco crescendo,
Para nunca acabar se começaram.
Ali se ajuntaram neste lugar ameno,
Aonde agora mouro, testa de neve e ouro,
Riso brando, suave, olhar sereno,
Um gesto delicado,
Que sempre n'alma m'estará pintado.
Nesta florida terra,
Leda, fresca e serena,
Ledo e contente para mim vivia,
Em paz com minha guerra,
Contente com a pena
Que de tão belos olhos procedia.
Um dia noutro dia
O esperar m'enganava;
Longo tempo passei,
Co a vida folguei, só
Porque em bem tamanho me empregava.
Mas que me presta já,
Que tão fermosos olhos não os há?
Ó quem me ali dissera
Que de amor tão profundo
O fim pudesse ver ind'algüa hora!
Ó quem cuidar pudera
Que houvesse aí no mundo
Apartar-m'eu de vós, minha Senhora,
Para que desde agora
Perdesse a esperança,
E o vão pensamento,
Desfeito em um momento,
Sem me poder ficar mais que a lembrança,
Que sempre estará firme
Até o derradeiro despedir-me.
Mas a mor alegria
Que daqui levar posso,
Com a qual defender-me triste espero,
É que nunca sentia
No tempo que fui vosso…

Quererdes-me vós quanto vos eu quero;
Porque o tormento fero
De vosso apartamento
Não vos dará tal pena
Como a que me condena:
Que mais sentirei vosso sentimento,
Que o que minh'alma sente.
Moura eu, Senhora, e vós ficai contente!

Tu Canção, estarás
Aqui acompanhando
Estes campos e estas claras águas,
E por mim ficarás chorando
E suspirando,
E ao mundo mostrando tantas mágoas,
Que de tão larga história
Minhas lágrimas fiquem por memória.


Luís Vaz de Camões
In TROVAS & CANÇÕES

***
  
BIOGRAFIA BREVE

LUÍS VAZ DE CAMÕES nasceu por volta do ano de 1524 e não se sabe ao certo onde terá nascido. Acredita-se que tenha sido em Lisboa. Filho de Simão Vaz de Camões e de Ana Sá.
Ao que tudo indica, Luís pertencia a uma família de pequena nobreza. O que pode comprovar este facto é um documento oficial, denominado “A carta do perdão”, de 1553, que o referencia como Cavaleiro Fidalgo da Casa Real.
Luís de Camões estudou em Coimbra, no mosteiro de Santa Cruz, onde teria tido como mestre de Cultura e Línguas Clássicas um tio monge célebre. O poeta sempre refere em sua lírica que passou muito tempo nas margens de Mondego. Não existe nenhuma prova que ele tenha ingressado na recente universidade desta cidade já que, por questão e conveniência familiar, não teria nisso vantagem. Ademais o famoso mosteiro de Santa Cruz, nessa altura, era mais prestigiado que a própria Universidade.
Viveu em Lisboa antes de 1550 e por lá permaneceu lá pelo menos até 1553. Nesse ano, o jovem Luís foi mobilizado para uma expedição militar, diz-se que por motivos disciplinares, a Ceuta, onde foi ferido e perdeu um de seus olhos numa escaramuça contra os Mouros.
Quando voltou para Lisboa retomou integralmente uma vida boémia. Assume-se aí como um homem dedicado à arte de escrever, nomeadamente em Poesia. Desde sempre identifica-se como um ser humano com uma maneira despreocupada, sarcástica e irónica, vivendo apenas desse estilo de vida boémia dominantemente desregrada. A partir de meados dos anos cinquenta, divide-se entre as suas amantes nobres e também plebeias. Envolvendo-se amiudadamente em rixas e brigas, devido quase sempre a esses amores e paixões, teve de se confrontar frequentemente com a justiça lisboeta da época.
Numa dessas brigas, fere gravemente Gonçalves Borges, um dos servos do Paço e é definitivamente preso. Só consegue a liberdade com a promessa de embarcar de imediato para a Índia. Durante mais três anos de sua vida foi soldado de baixa patente e participou em expedições militares.
Luís de Camões também passou algum tempo na cidade de Macau, onde terá desempenhado a função de provedor de bens de ausentes e defuntos.
Na viagem de volta a Goa naufragou e perdeu quase todos os seus pertences conseguindo somente salvar os manuscritos de “Os Lusíadas“, que veio a ser publicado apenas em 1572, depois de ter regressado Lisboa.
Apesar de receber cerca de 40 réis por dia, “em respeito aos serviços prestados na Índia e pela suficiência que mostrou no livro sobre as coisas de tal lugar”, viveu ainda alguns anos em grande pobreza e privações. Morre em Junho de 1580, no dia 10.
Algum tempo mais tarde, Dom Gonçalo Coutinho manda gravar uma lápide em sua homenagem, que diz: “Aqui jaz Luís Vaz de Camões, Príncipe dos Poetas de seu tempo. Viveu miseravelmente, e assim morreu”.
As obras de Camões só foram reconhecidas verdadeiramente depois da sua morte, sendo ele desde sempre até hoje considerado o maior poeta português de todos os tempos, nomeadamente na arte dos Sonetos e na universal Odisseia de OS LUSÍADAS.

DOIS SONETOS DE CAMÕES


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

*

Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus versos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co tormento,
Para que seus enganos não dissesse.

Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades, quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são, e não defeitos...
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos!



                                      Pesquisa de Assis Machado