domingo, dezembro 04, 2005

O CALVÁRIO DO POETA - À memória de F. Pessoa



O CALVÁRIO DO POETA


Junto à Brasileira do Chiado
Parafraseando F. Pessoa, nos 70 anos da sua morte :
"quem mais que o poeta teve de galgar os rudes meandros do seu
Calvário?"


O poeta tem seu nome
nas sementes geradas
no ventre do destino
e a sua revelação
ocorre no devir do tempo
que lhe compete.

A própria consistência
vem no fluir das horas
que lhe são delimitadas
pela sua poesia.

E esta não é senão
a resistência imanente
da gestação fora de si
pelo alienar constante
da consciência alheia.

É aqui que nasce o drama,
o drama de assumir,
no fundo, o que se é.

O poeta para se revelar
tem de gerir a sua identidade,
tem de vincar o seu eu,
gerir o ser do não-ser
e resistir sendo.

Neste profundo contraditar
está toda a beleza
da arte poética,
pela qual se manifesta
a verdade do seu mundo.

Andar nele e com ele
é carregar a força mítica
que traz no seu bojo
todas as sensações
que conduzem fatalmente
à sua própria morte.

Porque o poeta tem de morrer
para que fique neste acto
toda a sublimidade
da poesia que sonhou !


Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA